quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Tribo Cacuia




Cacuia, Ilha do Governador - Rio de Janeiro, onde tudo começou...

1976, lembro-me como hoje, tinha 10 anos de idade, sentado no muro de minha casa, a de nº 11 da Rua Sargento João Lopes, observava os blocos de embalo que se enfileiravam para os desfiles do carnaval. As alegorias e alas se organizavam ao longo da Rua Sargento João Lopes, cruzando a Rua Ericeira, onde se concentravam todos os foliões.

Eles iniciavam seus desfiles ao lado do Supermercado Merci (hoje, Igreja Universal) e seguiam virando na Estrada da Cacuia, sentido à esquina do cemitério com a Rua Copiúva, onde se encerravam os desfiles. Era um trecho de aproximadamente 400m, onde pelas calçadas, dividindo o espaço entre as barracas de cachorro-quente e churrasquinho, se aglomeravam pessoas da comunidade com crianças nos ombros para verem os desfiles. E se não me falha a memória, eram em torno de 20 blocos a desfilarem no total. 

O Bloco do “Cata”, do bairro do Guarabú, era um dos mais conhecidos e esperados pela comunidade. Outros blocos de fora da Ilha do Governador eram convidados também para incrementar o desfile que varava toda a madrugada.

O engraçado é que apesar dos desfiles serem realizados no Cacuia, o bairro não tinha nenhum bloco nos representando, e aquilo me chamou a atenção na época.

Fui criado em meio a carnaval e desfiles de escola de samba. Meu Tio Maurício Gazele foi fundador do GRES União da Ilha do Governador, onde mais tarde, meu pai Jorge Gazele (Peixinho), teve também, sua passagem como presidente da agremiação.

O carnaval sempre me seduziu, e eu frequentava os ensaios da União da Ilha, quando ainda eram na Rua Copiúva, no Jequiá Iate Clube, no Clube do Cocotá, além é claro, dos ensaios na atual quadra, na Estrada do Galeão. Sem contar, os vários desfiles que participei na Avenida Marquês de Sapucaí.

Minha paixão era tão grande pelo carnaval, que cheguei a desistir de um contrato numa multinacional (Xerox do Brasil) como representante comercial, para trabalhar no barracão da União da Ilha. Este carnaval foi em 1998, “Fatumbi - Ilha de Todos os Santos”. Era um sonho viver aquela experiência. 

No ano seguinte, o carnaval de 1999, tinha como enredo ”Barbosa Lima, o Sobrinho do Brasil”, porém, houve algumas interferências políticas (coisas de escola de samba), e me retirei da agremiação antes mesmo de se iniciar os trabalhos do barracão. Lembro-me, que entristecido, não iria desfilar naquele carnaval pela União da Ilha.

Então, após sair da União da Ilha, o ano virou e era início de janeiro de 1999, quando tive a ideia de criar um Bloco de Carnaval, que fosse comum a todas as pessoas da minha comunidade. Assim, as pessoas teriam onde se divertir com mais liberdade e participação. 

Pesquisei que Cacuia significa “Mato que cai, que se desprende" Ka'a (mato) e Kui (cair, se desprender), nome dado pelos índios da época a região, pois o bairro era cercado de matas entre morros da Ilha do Governador. Logo, o nome “Tribo” seria muito conveniente para homenagear os moradores do local, daí o nome, “Tribo Cacuia”.

Com uma ideia, papel e uma caixa de lápis de cor, surgia o que hoje é o Bloco Carnavalesco Tribo Cacuia. Desenhei a comissão de frente com meninos vestidos de canoa, o abre-alas com o brasão da Tribo, algumas alas de índios com lanças, outras com escudos, baianas, etc.

As cores Vermelho e Azul é uma homenagem a União da Ilha do Governador, e o amarelo faz referência ao sol, a liberdade, a alegria de brincar o carnaval.

Para o plano sair do papel, eu teria que convencer a participar de início, pelo menos, uma só pessoa, alguém que fizesse acontecer. Eu o conhecia muito bem e sabia que sem ele, nada daquilo seria possível. Ele tinha muitas amizades para adquirir recursos e apoio. Gostava da comunidade, além de ter como características pessoais, a determinação, a perseverança e a humildade.

E esta pessoa, era o meu primo Luís Carlos Taufie Netto, o “Luís da Kazinha”. Mostrei para ele o planejamento do bloco e de início ele relutou, pois era janeiro e ele estava envolvido com as compras de carnaval de sua loja, que são voltadas para épocas festivas. 

Persisti com a ideia por uns três dias até que eu o convenci. Neste meio tempo dividi a novidade com alguns amigos do bairro e todos apoiavam.

Para uma iniciativa desta proporção, precisávamos de mais apoio, daí resolvemos convidar o Bloco Carnavalesco Cacique de Ramos para nos apadrinhar, como também convidar várias outras pessoas do bairro para fundar a Tribo. Na verdade, todos eram bem vindos, sem restrições, aliás, não existe nada mais democrático do que um bloco de embalo.

Num sábado à tarde, fomos ao encontro de alguns amigos de infância na Rua Sargento João Lopes, e lá dividimos a novidade, e todos gostaram. Ainda era mês de janeiro e escolhemos o dia em que seria a fundação, 19 de abril de 1999, dia do Índio.  Foi decidido também que o local dos ensaios seria próximo ao tradicional Relógio do Cacuia. 

Com o apoio financeiro de outros amigos eu e o Luís fomos a um bairro do subúrbio do Rio para comprar os primeiros instrumentos musicais. 

Agora sim, a Tribo acontecia. 

Dia 19 de abril de 1999, às 21h, na Rua Sargento João Lopes nº 54 (Garagem), reuniam-se os fundadores do Bloco Carnavalesco Tribo Cacuia.

 Assinamos o livro da fundação e começava ali, uma bela história para se contar. 

Muitos tiveram papel importante para a realização e manutenção do projeto durante todos esses anos. Em nome da alegria, estas pessoas acreditaram, e sem isso, certamente o bloco não existiria. Eu não os citei, porque poderia ser injusto em esquecer algum nome. Todos foram importantes. Apenas descrevi aqui, o “pontapé inicial”.

Longevidade a Tribo!

Alex Ramos Gazele (fevereiro/2013)


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